domingo, 26 de novembro de 2006

Mario Cesariny



Um grande Homem, uma grande obra, fica a imortalidade (1929- 2006)

sábado, 25 de novembro de 2006

Violência contra Mulheres


Contra a violência sobre as mulheres Quando chegava o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, um grupo de manifestantes no Paquistão acenderam velas para apoiar uma lei que protege as mulheres paquistanesas contra crimes como a violação. (Foto: EPA). In Público, de 25/11/06.

A violência não é natural. É um comportamento aprendido.A violência é tão banalizada, que determinadas atitudes violentas passam como não sendo.

quinta-feira, 23 de novembro de 2006

Eugénio de Andrade


Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.

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É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios e
manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.

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Procura a maravilha.

Onde um beijo sabe
a barcos e bruma.

No brilho redondo
e jovem dos joelhos.

Na noite inclinada
de melancolia.

Procura.

Procura a maravilha.

terça-feira, 21 de novembro de 2006

Polémicas

"Esta investigação a José Veiga é apenas mais um episódio de putrefacção desse mundo decadente que cruza futebol, justiça e política."
Eduardo Dâmaso, Diário de Notícias, 21-11-2005

Sociologia - flup

Amanha na Flup:


domingo, 19 de novembro de 2006

“Uma Verdade Inconveniente”


Li hoje no púlico , que o documentário de Al Gore sobre as alterações climatéricas está na lista dos nomeados para os óscares...
Já aqui fiz um post sobre o documentário...à parte da vertente ideológica que vejo no filme, este cumpre a sua principal função de trazer à discussão os problemas que se levantam à sobrevivência do nosso planeta...
Com toda a sua experiência como orador, trata o assunto de uma forma cativante para o espectador... por mim merece ganhar pela pertinência com que trata a chama a atenção que todos nós deviamos perder uma bocado do nosso tempo a ver....
Na noticia do público, le-se também que na lista dos candidatos estão três documentários sobre o Iraque... esta é melhor nem comentar

segunda-feira, 13 de novembro de 2006

Rui Rio, quem mais?

Rui Rio tem "visão pequena e ressentida da realidade" Francisco Mangas, DN

Os vereadores do PS e da CDU na Câmara Municipal do Porto vão contestar hoje, na reunião do executivo, a decisão de Rui Rio de, por despacho, cortar os apoios pecuniários a fundo perdido destinados à actividade cultural. É uma "posição absurda", diz Francisco Assis, que acusa o presidente da autarquia de ter "uma visão pequena e ressentida da realidade".Rui Sá, vereador comunista, discorda também da decisão da autarca social-democrata e vai enviar o despacho, que considera ilegal, à Inspecção-Geral da Administração do Território (IGAT). A decisão de Rui Rio, segundo os representantes do PS e da CDU, não foi discutida no executivo camarário, o que para Francisco Assis representa, além do mais, um gesto de "má educação do presidente". Segundo o vereador socialista, este despacho é imagem da "ausência de política no plano cultural" na a segunda cidade do País. Rui Sá, por seu turno, considera que o corte dos subsídios à actividade cultural representa a demissão da Câmara de uma das suas funções. "É um atraso de vida"Ontem, em conferência de imprensa, o movimento Pelo Porto Juntos no Rivoli, num comentário ao despacho que extingue a partir de Janeiro de 2007 os subsídios pecuniários, desafiou Rui Rio a encerrar o pelouro da Cultura. Neste momento, referiu Francisco Beja, "não faz sentido existir um vereador da Cultura, quando o seu pelouro está completamente esvaziado.O representante do movimento cívico - que surgiu para impedir a privatização da gestão do Rivoli, único teatro municipal do Porto - acusou Rio de desenvolver "acção deliberada para acabar com a cultura na cidade", servindo-se de um "discurso neoliberal sobre os artistas".Carmem Miranda, do mesmo movimento cívico, lembrou que a cidade do Porto, agora, "é um atraso de vida". Durante uma década, disse, foi possível pôr de pé um projecto cultural na cidade: o Porto foi Capital Europeia da Cultura e deixou caminhos abertos. "Mas foi tão fácil acabar com esse legado", sublinhou. Qualquer dia, disse Carmem Miranda, a UNESCO "vem cá saber o que fizemos ao Património Mundial".Para esta representante do movimento Pelo Porto Juntos no Rivoli, na área da cultura "não há um retorno imediato do investimento". Sendo assim, que medidas poderá tomar o presidente da Câmara Porto em relações aos museus municipais: "Nos museus não há lucro, o que vai fazer Rui Rio para resolver essa situação?"

(in dn de 07/11/06)

domingo, 12 de novembro de 2006

Para lá das fachadas

Behind The Wall, Tracy Chapman



Last night I heard the screaming
Loud voices behind the wall
Another sleepless night for me
It wont do no good to call
The police
Always come late
If they come at all

And when they arrive
They say they cant interfere
With domestic affairs
Between a man and his wife
And as they walk out the door
The tears well up in her eyes

Last night I heard the screaming
Then a silence that chilled my soul
I prayed that I was dreaming
When I saw the ambulance in the road

And the policeman said
Im here to keep the peace
Will the crowd disperse
I think we all could use some sleep

sábado, 11 de novembro de 2006

sexta-feira, 10 de novembro de 2006

Pobreza

Hoje li um artigo na revista DIA D que vinha com o Público, em que o tema de capa é a pobreza: “Porque falha o combate à pobreza?”. Não vou reproduzir aqui o artigo, mas ele serve de mote para divagar um pouco sobre o ciclo que é a pobreza:

“Eles apanham as maçãs maiores das árvores, mas no chão ficam muitas caídas as que são feias, mas são boas e servem à criação”… Esta frase é de uma idosa, que vive no interior do país, e que assim define a escolha das melhores maças para o litoral do país e do abandono a que o interior do país está sujeito no que toca ao acesso de meios de subsistência mínimos, por mais mínimos e básicos que nos pareçam…
Dizer que se um assalariado, que perca do seu emprego, e que até já tenha uma idade avançada e poucas qualificações escolares, para se inserir no mercado de trabalho actual, e se permanecer nesta situação durante bastante tempo é quando não no mínimo uma pessoa em risco de pobreza… e que provavelmente reúne todos os predicados necessários para não mais sair deste ciclo gerador de situações de exclusão; provavelmente será uma situação que muitos de nós conhecemos e ouvimos comentar no dia-a-dia… Mas as situações de pobreza no interior do país revelam uma face muitas vezes camuflada pela pequena agricultura de subsistência (“…tenho um porco, galinhas e uns tantos coelhos: não tenho muito, mas escuso de ir ao talho…”), que a muito custo se mantém. Falamos de uma realidade em que a pobreza se deve a questões estruturais muito mais graves e que provavelmente vai continuar até que o tempo se encarregue de resolvê-lo…

O meu avô costumava chamar-me da “chica – esperta” por escolher sempre as maçãs mais bonitas que estavam nas árvores, e deixar sempre para trás as que estavam no chão e as que tinha pior aspecto, que se podiam estragar mais depressa…

Os números da Pobreza:
- 21% dos portugueses vive em risco de pobreza e, dos países da EU, Portugal é onde é mais difícil ultrapassar a situação: 15% é pobre há pelo menos dois anos.
- Os rendimentos dos 20% de portugueses mais ricos são 7,2 vezes superiores aos dos 20% mais pobres. O fosso entre os mais ricos e os mais pobres é o mais elevado da Europa.
- Quase 4 milhões de portugueses vivem em risco de pobreza antes das transferências sociais. O valor desce para 24% da população com o pagamento de pensões e para 21% depois de todas as transferências.
- 10,9% dos empregados por conta de outrem vivem em situação de pobreza.
- 18,7% da população não tem sequer acesso a um nível mínimo de bem-estar.
- Os grupos mais afectados são as crianças e os idosos, onde o risco de pobreza é de 23 e 29%, respectivamente.
- As regiões autónomas são as mais afectadas pela pobreza. Em todo o país, as zonas rurais são mais pobres do que as litorais (33% face a 16%).

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

Lula e a Esquerda

Depois da inesperada fragilidade revelada no primeiro turno, a vitória retumbante de Lula no segundo deixou o mundo estupefacto. É um acontecimento político notável, e o mérito cabe por inteiro a Lula. Só ele poderia reacender o entusiasmo da mobilização em milhares de militantes magoados e desiludidos pelos desacertos da sua política durante o primeiro mandato. Mas as razões do seu êxito são bem mais profundas e merecem reflexão. A vitória de Lula representa um "choque de realidade" para as elites políticas que governaram o Brasil até 2002. A distância e a arrogância que as separa do país real e a acumulação histórica de ressentimento que isso criou entre as classes populares não lhes permitiu aproveitar as fragilidades do candidato Lula. 58 milhões de brasileiros, na sua maioria pobres, preferiram correr o risco de votar num governo que os pode desiludir a votar num governo que, à partida, já não os consegue iludir. É inescapável a perplexidade causada por duas enormes dissonâncias cognitivas reveladas nestas eleições. A primeira consiste na discrepância entre a dramática polarização política, sobretudo no segundo turno, e as diferenças moderadas entre as duas propostas políticas, sobretudo se tivermos em conta as políticas do primeiro mandato de Lula e se descontarmos a questão das privatizações. A segunda reside em que o candidato que conquistou o voto e o coração de milhões de pobres é o mesmo que recebeu efusivas e cúmplices felicitações de Bush, a quem só interessa o bem estar dos ricos e dos muito ricos. Esta foi a única eleição recente na América Latina em que o candidato de esquerda não sofreu a interferência da embaixada norte-americana. Significam estas dissonâncias que alguém está a enganar alguém? Não necessariamente. A razão para elas está no facto de a distância que separa as elites oligárquicas das classes populares não ser apenas económica, apesar de esta ser enorme num dos países mais injustos do mundo. É também cultural e racial. Isto explica o êxito da política simbólica de Lula, a sua capacidade para ampliar o impacto político de medidas relativamente tímidas, devolvendo a auto-estima a milhões de brasileiros humilhados não apenas pela fome, mas também pelas barreiras no acesso à educação e pelo racismo insidioso da suposta democracia racial. Graças a tal capacidade, medidas não originariamente de esquerda, como a bolsa-família, puderam ser constitutivas de cidadania social, e pequenas transferências de rendimento puderam ser transformadas em mudanças qualitativas. Tudo isto foi possível devido a uma subtil inversão do sinal político: atribuída por Lula, a bolsa-família foi credivelmente entendida pelos brasileiros como "isto é o mínimo que vos devo"; se fosse atribuída por um presidente de direita, dissesse ele o que dissesse, seria sempre entendida como "isto é o máximo que vos devo". Esta inversão escapou aos analistas políticos.O segundo mandato de Lula terá de ser diferente do primeiro. Com a sua lucidez habitual, Tarso Genro formulou o óbvio, o que, em política, é quase sempre tabu: a era Palloci acabou. Só que acabou há já tempo, pelo menos desde que, no final de Agosto, o Conselho de Desenvolvimento Económico e Social aprovou por unanimidade os "Enunciados da Concertação". Entre esses enunciados, está a baixa da taxa de juros para níveis médios internacionais nos próximos cinco anos e a duplicação da parcela da renda nacional apropriada pelos 20% mais pobres nos próximos quinze. A partir de 1 de Janeiro, Lula terá de começar a preparar o pós-lulismo: uma forma de governação de esquerda que não dependa da capacidade de um líder carismático para disfarçar com o discurso da anti-política a incapacidade para substituir a velha política por uma nova política. Essa nova política tem de ser preparada de um modo consistente, e o primeiro passo é certamente a reforma do sistema político e a reforma do Estado. Só elas permitirão concretizar as políticas de justiça social, cultural e racial em que os brasileiros depositaram a sua esperança. Mas tudo isto só acontecerá se os brasileiros não se limitarem a esperar. E tudo leva a crer que assim sucederá. A plataforma política dos movimentos sociais—"Treze Pontos para um Projecto Popular para o Brasil"— apresentada a Lula a 19 de Outubro é um sinal de que o tempo dos cheques em branco acabou e de que a luta contra a cultura política autoritária terá de ser travada com decisão para impedir que o golpismo ocorra, mesmo que a coberto da lei (um exemplo grotesco desta possibilidade é a vergonhosa sentença judicial contra o grande intelectual e democrata Emir Sader). Algures, entre os enunciados de concertação e os treze pontos, a governação do segundo mandato será uma nova era.
Boaventura Sousa Santos (Publicado na Folha de São Paulo em 6 de Novembro de 2006)

sábado, 4 de novembro de 2006

quarta-feira, 1 de novembro de 2006

Rivoli

Gostei muito do Editorial do Público de hoje, por isso vou transcrevê-lo aqui:
“Concorde-se ou não com os pressupostos da ocupação do Rivoli, o certo é que aquela manifestação contra a anunciada concessão da gestão do teatro a privados teve o condão de inquietar uma cidade cada vez mais abúlica e resignada. Independentemente da sua legalidade, aquela ocupação teve ainda a particularidade de lançar o debate sobre o que poderá ser a oferta cultural como serviço público. Contraproducente ou não, o protesto existe. A existência do teatro Municipal de São João, do Museu de arte Contemporânea de Serralves e da Casa da Música não são argumentos aceitáveis para que a Câmara do Porto se demita da sua função de assegurar uma programação cultural tão diversificada que permita a coexistência de La Féria com Merce Cunningham.
É exactamente esse o papel do Teatro São Luiz, em Lisboa, cuja a gestão está entregue a uma empresa municipal (a Egaec) e em cuja a programação tanto pode figurar Pina Bausch como Cristina Branco. O Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, ou a Casa das Artes, em Famalicão, são outros exemplos de instituições geridas, de facto, segundo critérios de diversidade e de abrangência de públicos sem dogmas e sem atropelos ideológicos.
Deste ponto de vista a gestão de todos os teatros municipais obedece a princípios de natureza empresarial ou, pelo menos, a uma contratualização entre público e privado. Nada obriga, pois, a que os teatros tenham produção própria, mas também nada obriga a que os mesmos sejam uma apática barriga de aluguer, como aconteceu deliberadamente no Rivoli nos mandatos de Rui Rio. O que aconteceu no Porto foi que a Câmara se aproveitou do discurso da crise para convencer a cidade do que o que está em causa são razões de ordem económica, quando os 11 milhões de euros apontados como custos da Culturporto não se referem a uma não de actividade, mas sim a um período de quatro anos. O que está subjacente a esta decisão politica, porque é disso que se trata, é a apologia do anti-intelectualismo mais primário, que esvaziou de competências a empresa municipal Culturporto – e a nomeação da engenheira alimentar Raquel Castelo-Branco para a sua direcção não é um factor de despiciendo – e que procura condicionar a mais elementar liberdade de expressão (veja-se o caso da companhia Art’Imagem). Como também não é despiciendo que a direcção da Porto Lazer, que gradualmente substitui a Culturporto e que é, de resto, uma designação mais apropriada à noção de artes da actual Câmara, tenha sido entregue ao ex-deputado Ricardo Alegre (celebrizado por várias multas por excesso de velocidade).
A demissão autárquica do exercício de qualquer politica cultural digna desse nome é a negação de um serviço público que deveria ser sua obrigação. A cedência de um espaço municipal a apenas uma empresa, cujas as preocupações não deveram transcender uma mera politica de entretenimento ou de lazer, com base num caderno de encargos ambíguo e dificilmente exequível, é um assumido empobrecimento da vida pública e uma diminuição da sua responsabilidade social e cívica.
Amílcar Correia”