terça-feira, 19 de junho de 2007

Polemicas... que importam!

Estudo: 39% dos oncologistas quer legalização da eutanásia

Trinta e nove por cento dos médicos oncologistas portugueses defendem a legalização da eutanásia, revela um estudo divulgado hoje pelo Serviço de Bioética e Ética Médica da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).
O estudo foi feito pelo médico Ferraz Gonçalves, pioneiro dos cuidados paliativos em Portugal, no âmbito da tese de mestrado «A boa morte: Ética no fim da vida», que defendeu com sucesso quarta-feira na FMUP.

Ferraz Gonçalves enviou inquéritos a 500 médicos oncologistas portugueses, tendo recebido cerca de 200 respostas, 39 por cento das quais favoráveis à legalização da eutanásia.
O director do Serviço de Bioética e Ética Médica da FMUP, Rui Nunes, orientador da tese, disse à agência Lusa que os resultados do estudo são «muito preocupantes» e constituem «um sinal de alerta», porque confirmam uma tendência de crescimento.
«Para quem é favorável à eutanásia, que não é o meu caso, estes resultados podem ser considerados positivos, mas eles são um sinal de alerta para a sociedade e para o legislador, no sentido de inverter esta tendência», afirmou Rui Nunes.
O presidente da Associação Portuguesa de Bioética frisou que o inquérito «não foi feito a uns médicos quaisquer, mas sim oncologistas, que são os que lidam com os doentes terminais».
«Tradicionalmente, as pessoas e os médicos são contra a eutanásia, que é uma prática que a ética médica condena com veemência, mas este estudo vem confirmar uma percepção que cresce junto dos profissionais desta área. Se não fizermos nada, amanhã serão mais», salientou.
Para Rui Nunes, a responsabilidade pelo crescimento do número de médicos favoráveis à eutanásia está na ausência de uma política integrada de cuidados paliativos.
«O doente pede eutanásia porque tem dores, está em sofrimento, está num espaço de completa desumanização, longe da família», afirmou, salientando que os cuidados paliativos são a resposta que a sociedade pode e deve dar aos doentes terminais.
Segundo Rui Nunes, em Portugal há apenas «cinco ou seis unidades de cuidados paliativos a funcionar em pleno», não tendo havido nunca uma aposta séria na sua expansão a todo o país.
«É um tema que sistematicamente não é discutido. Isto é preocupante, porque mostra que todos nós, médicos e governantes, temos medo da morte», frisou Rui Nunes, desejando que os portugueses não façam como os holandeses, que «pura e simplesmente desistiram», passando a permitir a morte pela eutanásia.
Rui Nunes considerou «falso» que fique mais caro ao Estado acompanhar um doente terminal numa unidade de cuidados paliativos do que num hospital normal.
«O que será necessário é discutirmos a fundo o testamento vital», disse Rui Nunes, destacando a importância deste instrumento para quem teme a perda de controlo das decisões sobre a sua vida.
Para Rui Nunes, o doente deveria ter direito a recusar «estar eternamente ligado a um ventilador» ou ser submetido a uma cirurgia arriscada de escasso efeito para a sua qualidade de vida.

Diário Digital / Lusa

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