sexta-feira, 10 de novembro de 2006

Pobreza

Hoje li um artigo na revista DIA D que vinha com o Público, em que o tema de capa é a pobreza: “Porque falha o combate à pobreza?”. Não vou reproduzir aqui o artigo, mas ele serve de mote para divagar um pouco sobre o ciclo que é a pobreza:

“Eles apanham as maçãs maiores das árvores, mas no chão ficam muitas caídas as que são feias, mas são boas e servem à criação”… Esta frase é de uma idosa, que vive no interior do país, e que assim define a escolha das melhores maças para o litoral do país e do abandono a que o interior do país está sujeito no que toca ao acesso de meios de subsistência mínimos, por mais mínimos e básicos que nos pareçam…
Dizer que se um assalariado, que perca do seu emprego, e que até já tenha uma idade avançada e poucas qualificações escolares, para se inserir no mercado de trabalho actual, e se permanecer nesta situação durante bastante tempo é quando não no mínimo uma pessoa em risco de pobreza… e que provavelmente reúne todos os predicados necessários para não mais sair deste ciclo gerador de situações de exclusão; provavelmente será uma situação que muitos de nós conhecemos e ouvimos comentar no dia-a-dia… Mas as situações de pobreza no interior do país revelam uma face muitas vezes camuflada pela pequena agricultura de subsistência (“…tenho um porco, galinhas e uns tantos coelhos: não tenho muito, mas escuso de ir ao talho…”), que a muito custo se mantém. Falamos de uma realidade em que a pobreza se deve a questões estruturais muito mais graves e que provavelmente vai continuar até que o tempo se encarregue de resolvê-lo…

O meu avô costumava chamar-me da “chica – esperta” por escolher sempre as maçãs mais bonitas que estavam nas árvores, e deixar sempre para trás as que estavam no chão e as que tinha pior aspecto, que se podiam estragar mais depressa…

Os números da Pobreza:
- 21% dos portugueses vive em risco de pobreza e, dos países da EU, Portugal é onde é mais difícil ultrapassar a situação: 15% é pobre há pelo menos dois anos.
- Os rendimentos dos 20% de portugueses mais ricos são 7,2 vezes superiores aos dos 20% mais pobres. O fosso entre os mais ricos e os mais pobres é o mais elevado da Europa.
- Quase 4 milhões de portugueses vivem em risco de pobreza antes das transferências sociais. O valor desce para 24% da população com o pagamento de pensões e para 21% depois de todas as transferências.
- 10,9% dos empregados por conta de outrem vivem em situação de pobreza.
- 18,7% da população não tem sequer acesso a um nível mínimo de bem-estar.
- Os grupos mais afectados são as crianças e os idosos, onde o risco de pobreza é de 23 e 29%, respectivamente.
- As regiões autónomas são as mais afectadas pela pobreza. Em todo o país, as zonas rurais são mais pobres do que as litorais (33% face a 16%).

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